Carta a uma exnamorada
Querida,
Hoje te escrevo em tom de desabafo. Quero deixar aqui registrados, momentos inesquecíveis e paradisíacos que vivemos.
Naquela manhã de domingo, chegaste como uma flor, que envergonhada, por parecer amassada, se encobre em perfume para disfarçar o rubor. Estavas bela, apesar de ainda, com o rosto
amassado e marcado pelas noites mal dormidas no ônibus que te trouxe das Minas Gerais.
Chegavas aqui após mais de dois dias de viagem. Vinhas de Montes Claros para conhecer-me após vários meses nos correspondendo. Naquela época, não existia ainda internet. Até o telefone era raro e escasso. A comunicação quase sempre difícil. Era necessário marcar com antecedência a conversa. Às vezes era preciso esperar duas ou três horas até que a ligação se completasse. Mas naquela hora, estávamos juntos como havíamos sonhado tantas vezes... manifestando este desejo em forma de cartas, gravações, telegramas... ou só em pensamentos.
Fomos para um hotel em Boa Viagem. Nunca esquecerei aquele hotel. Foram dias incríveis que ali passamos. Eu estava fascinado. Tu, quase nas nuvens. Éramos como um casal de adolescentes. Mas eu já tinha uns 22 e tu, quase 20. Faz um bom tempo, é verdade. Mas lembro-me como se fosse hoje. Entramos no hotel por volta de meio-dia do domingo e de lá só saimos dez dias depois porque tinhas que voltar pra tua terra. Era setembro e o sol era constante aqui em Recife. Estávamos à beiramar mas, nenhuma vez sequer fomos até a orla. E tu adoras o mar! Mas não tivemos tempo de curtir a praia naqueles dias. Foram dez dias na cama fazendo amor quatro, cinco vezes por dia! Como foram incríveis aqueles dias! Só duas vezes saímos do quarto. Pra comer. O resto do tempo, foi todo dentro daquelas quatro paredes. Como pudemos? Hoje não sei te dizer. E só acredito que aconteceu, porque foi comigo que estavas. E após aqueles dez dias maravilhosos, tiveste que voltar. Ainda nos encontramos uma única vez, como namorados. Depois, ao nos encontrarmos outras vezes, foram todas como amigos. Amigos distantes e quase descopnhecidos. Como pudemos nos afastar tanto? Lembro que em uma dessas vezes, de surpresa chegaste lá em casa. Estava morando a beiramar nessa época. Um apartamentozinho pequeno onde passei uns seis a oito meses. Ficaste lá em casa hospedada uns 3 ou 4 dias. Mal nos falamos, mal nos encontramos. O que aconteceu?
Hoje, só mais de trinta anos depois, volto a pensar em ti com saudade. Saudade de momentos que nunca esqueci. Falta daqueles instantes, que no teu corpo, o meu abriguei. Desejo de notícias tuas receber, por tantos desejos deixar perecer. Não te tenho mais nos braços, não te encontro mais no quarto, não abraço mais o teu corpo... Só saudade chega aqui.
Um beijo carinhoso de beija-flor.
Alberto.
Alberto Valença Lima
Enviado por Alberto Valença Lima em 06/05/2014